Personalidade e Tendência para Certas Doenças


Dependendo das características da personalidade pode-se avaliar a tendência da pessoa para certas doenças. Mas, será que isso também valeria para acidentes?

acidente estranho: Foi exatamente isso que a Dra. Helen Flanders Dumbar do Columbia Presbiterian Medical Center de Nova Iorque, EUA descobriu em suas pesquisas.

Dra. Dumbar e colegas estavam pesquisando a relação entre tipo de personalidade e doenças quando se depararam com vários casos de fraturas em indivíduos considerados psicologicamente normais. Em dezenas dessas pessoas verificaram a existência de fatores emocionais predispondo a acidentes repetidos. Nos casos analisados pela médica evidenciou-se uma probabilidade catorze vezes superior de acidentes graves que de todos os demais pacientes examinados. As personalidades propensas a acidentes já haviam sofrido, em média, quatro acidentes graves cada. Pelo menos 80% dessas pessoas sofreram mais de dois acidentes.

A pesquisa verificou que os predispostos a acidentes são pessoas despreocupadas. Não demonstram tensão nervosa. Já vimos ser a tensão emocional uma das principais características dos doentes psicossomáticos. Os propensos a acidentes, de modo geral, são bem humorados. Mas apresentam um caráter instável. Apesar de inteligentes demonstram pouco interesse pelos valores intelectuais ou pensamentos profundos. São também rancorosas diante de qualquer manifestação de autoridade. Há tendência de serem criados em ambiente de profunda religiosidade ou por pais excessivamente autoritários e rígidos.

 

TENDÊNCIAS PSICOPATOLÓGICAS

Há séculos sabe-se das predisposições de certos indivíduos a determinados tipos de doenças. Dr. Fritz Alexander e colegas do Chicago Institute for Psychoanalysis, EUA, verificaram que indivíduos com enfermidades semelhantes apresentavam conflitos emocionais parecidos. Concluíram que tais conflitos continham indicadores para as causas das doenças psicossomáticas específicas. Verificaram haver predisposição hereditária em certas pessoas para algumas enfermidades, entretanto, o agente desencadeador muitas vezes é um conflito emocional ou uma elevada tensão em certo período da vida.

Há várias inter-relações orgânicas, sociais e emocionais vulnerabilizadoras de doenças. Alguém nascido com um sistema circulatório vulnerável pode sentir grande hostilidade em relação aos seus pais, sem jamais demonstrá-la, por querer intensamente a sua aceitação. A hostilidade reprimida afeta as reações hormonais e emocionais gerando constricção arterial e acúmulo de colesterol nas paredes das artérias. Os enfermos com úlcera duodenal apresentam conflitos de dependência. Os asmáticos temem perder a mãe e tem dificuldade em chorar. As vítimas de neurodermatite são carentes de contato físico.

Sabe-se que o diabete é uma enfermidade de origem congênita. O pâncreas passa a produzir quantidades insuficientes de insulina, ou pode haver maior consumo de insulina nos tecidos. Qualquer que seja o mecanismo causante, resulta em um elevado nível de açúcar no sangue. Essa condição existe desde o nascimento, apesar dos sintomas do diabete, por vezes, só se manifestarem no decorrer da vida. Suspeita-se que as tensões emocionais ou fisiológicas prolongadas podem gerar uma deficiência permanente nos mecanismos regulares já precários, facilitando a manifestação da doença.

A Dra. Dunbar, por exemplo, verificou que os diabéticos apresentam um longo quadro de mal-estar, cansaço, moleza e sentimento de depressão e desespero, antes que a enfermidade seja detectada. Entre outras características o diabético típico é indeciso, preferindo deixar que os outros decidam por ele, para depois assumir o papel de má vontade, apesar de evitar qualquer ação para aliviar o que lhe parece falta de sorte. A maioria dos diabéticos manifesta ressentimentos e submissão dócil aos seus pais na primeira infância. Os diabéticos manifestam tendência a passividade de um medo geral e à sexual em particular.

 

CASUÍSTICAS PSICOSSOMÁTICAS

Há variadas indicações dos efeitos emocionais no organismo físico. Os casos apresentados abaixo servem para compreendermos a íntima relação emoção-corpo-sociedade.

CASO VIÚVA

Certa viúva foi informada acerca da morte da última de suas irmãs. Sentiu-se profundamente culpada e amargurada por não tê-la visitado e ajudado. Apesar de tal visita ser praticamente impossível. Uma hora após ter recebido a notícia teve um derrame.

CASO NOIVA

Uma jovem estava prestes a se casar, mas inesperadamente o seu noivo deixou a cidade de repente. Aos poucos ela foi compreendendo que ele, simplesmente, fugiu para evitar o casamento. Certa noite, ao assistir uma cena romântica em um filme, sentiu forte pontada no joelho direito. Seguiram-se dores, inchaços e enrigecimento de outras articulações. Diagnóstico final: Artrite reumatóide.

CASO HERÓI

Luís padecia de hiperacidez estomacal crônica. Toda vez que assistia a um filme no qual o herói agia agressivamente ou perigosamente, ele reagia sentindo forte ardência na9 altura do coração enquanto o ácido fluía para o estômago. Luís se identificava com o herói. Diante da ansiedade despertada, ele fugia fisiologicamente da situação. Exatamente em que ele, na pessoa do herói, teria que lutar. O estômago se superativava preparando-se para a ingestão de alimentos. Isso é exatamente o oposto do que seria desejável no caso do herói cujo papel gostaria de desempenhar.

Há pessoas acometidas de certas doenças por desistência em viver. É preciso deixar claro que os exemplos citados acima não é lei geral. Há muitas pessoas que podem passar por situações análogas sem ter as conseqüências apresentadas. A forma de reação orgânica e emocional depende de vários fatores da personalidade que predispõe o indivíduo.

 

A DESISTÊNCIA

Há pessoas acometidas de certas doenças por desistência em viver. A reação de desistência por si só, não é capaz de produzir enfermidades. Quase sempre há a presença de predisposição biológica para tal moléstia. O conflito emocional é apenas o fósforo que acende o pavio da dinamite.

Geralmente a desistência sucede a uma perda, ou ameaça de perda de alguém ou algo que seja muito próximo do enfermo como mulher, marido, pai, filho, casa, emprego, carreira profissional .

O Dr. Arthur Schimale da Universidade de Rochester entrevistou 191 pacientes escolhidos ao acaso. Cerca de 80% haviam sofrido de alguma perda recente reagindo com sentimento de desistência.

O Dr. Renato Mayol, cancerologista, em seu livro “Câncer-Corpo e Alma”( Mercúrio, São Paulo, 1989) relata um caso descrito por um eminente professor de cancerologia. Vamos transcrevê-lo a seguir:

“O caso da paciente que chamaremos simplesmente de Maria, por ser Maria um nome de mulher. Maria morava no Sul do país e, com 42 anos de idade, havia sido operada de adenocarcinoma mamário. De família abastada, regularmente ela viajava para São Paulo, para as visitas médicas de seguimento que, de mensais, passaram a semestrais. E já iam 6 anos quando Maria foi para mais uma visita clínica de acompanhamento em que foi constatado, tanto por exames clínicos, como por exames laboratoriais especializados, que ela estava em excelentes condições de saúde, sem nenhum sintoma ou sinal do câncer que havia acometido. Nessa ocasião, à diferença das outras vezes, Maria preferiu não se demorar em São Paulo para as habituais compras, e resolveu antecipar a viagem de volta, ansiosa para dar as já costumeiras boas notícias ao seu marido. Mas qual não foi a dolorosa surpresa de Maria, ao chegar em casa, abrir a porta e encontrar e seu marido fazendo amor com a empregada, na cama do casal! Para Maria, o mundo desabou. Perdeu a auto-estima, perdeu a vontade de viver. Duas semanas depois, Maria vinha a falecer com câncer de mama disseminado, com metástases em quase todos os órgãos!

Este é um caso que nos chama bem a atenção para o fato de que o paciente é o grande responsável pela sua saúde, pelo seu desejo de viver. E de morrer”.

 

FONTES

Alexander, F.; French, T. M.; Pollock, G. H. “Psychosomatic Specificity: Volume I: Experimental Study and Results”. Chicago: University of Chicago press, 1968.

Kubie, L. S. “The Problem of Specificity in the Psychosomatic Process”. In: Deutsch, F. The Psychosomatic Concept in Psychoanalysis. New York: International Universities Press, 1953. Citações de Dunbar:

Dunbar, H. F. “Emotions and Bodily Change”. New York: Columbia University Press, 1954.

Gildea, E. F. “Special Features of Personality which Are Common to Certain Psychosomatic Disorders”. Psychosomatic Medicine, 12:273, 1949.

Ring, F. O.”Testing the Validity of Personality in Psychosomatic IIInesses”. American Journal of Psychiatry, 113:1075-1080, 1957.

Dunbar, H. F. “Psychosomatic Diagnosis”, New York: Paul B. Hoeber, 1943.

Alexander, F. “Psychosomatic Medicine: Its Principles and Applications”, New York: W. W. Norton, 1950.

Extrato da lição do Curso de Anatomia Para Terapeuta. Mais info, clique aqui.

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