Personalidade e seus Problemas


O Que É Personalidade

Para entendermos as tendências patológicas a certas enfermidades é preciso compreender o que vem a ser a personalidade.

Para a Psicologia a personalidade é a soma dos traços, hábitos e experiências de uma pessoa. A própria ciência ainda não tem uma definição aceita universalmente, entretanto considera-se, em geral, os seguintes aspectos: temperamento, inteligência, emoção e motivação.

A noção de temperamento origina-se na antiga teoria dos quatro humores. Este divide os indivíduos em quatro classes: coléricos, melancólicos, sangüíneos e fleumáticos. Essa classificação reflete diferenças da natureza e da velocidade das reações de cada um. Por exemplo, certas pessoas ficam iradas com facilidade, enquanto outras são tranqüilas e reagem lentamente.

A inteligência define as capacidades de uma pessoa em comparação com norma teórica, ao passo que emoção e motivação descrevem sentimentos, ligações com os demais, padrões morais e aspirações.

O desenvolvimento da personalidade parece depender da interação de dois fatores básicos: a hereditariedade e o meio ambiente. A hereditariedade refere-se a certas qualidades inatas da pessoa. O meio ambiente influencia nas experiências de vida que afetam os modos de pensar e comportar-se do indivíduo.

 

Identificando Tendências

O biótipo de cada pessoa pode indicar  predisposição a certos tipos de doenças. Uma pessoa alta, magra, de peito estreito é mais predisposta a tuberculose do que um tipo brevilíneo, isto é, baixo, ombros largos e robusto. Entretanto, este é mais vulnerável a uma hemorragia cerebral.

Os médicos antigos acreditavam que os diabéticos são apreciadores de uma boa e farta mesa. As doenças cardíacas ocorrem com maior freqüência nos ansiosos. Os acometidos de úlcera péptica são geralmente muito esforçados e obstinados. Os melancólicos podem sofrer da vesícula biliar.

Os estudos e pesquisas sistemáticos correlacionando tipos de personalidade e doenças são recentes. Este enfoque está em debate no campo da Medicina Psicossomática. Há, contudo, muitos profissionais que criticam esta relação.

O Chicago Institute for Psychoanalysis realizou uma pesquisa para ver se era possível diagnosticar distúrbios orgânicos simples sem exame médico, tomando-se por base tão somente a personalidade da pessoa. As alterações em estudo foram: asma brônquica, pressão alta, hipertireoidismo, neurodermatite, úlcera pérptica, artrite, reumatóide e colite ulcerativa. Apenas analisando a característica da personalidade os médicos chegaram a diagnosticar 43% dos casos com acerto, baseando-se tão somente nos padrões comportamentais e características psíquicas do paciente.

 

Distúrbios da Personalidade

Os pesquisadores descobriram que há três tipos básicos de distúrbios da personalidade. Com freqüência pode ocorrer sobreposição de tipos. Os três tipos básicos são: excêntricos, dramáticos e os medrosos.

Excêntricos

Os excêntricos são os primeiros grupos. Nesse grupo há vários elementos comportamentais, nas quais destacamos: os paranóicos demonstram suspeitas e desconfianças imotivados, os esquizóites são emocionalmente frios e tem dificuldade em  estabelecer relacionamentos sociais, os esquizótipos demonstram comportamento estranhos semelhantes aos da esquizofrenia, entretanto, menos grave.

Dramáticos

Os dramáticos correspondem ao segundo grupo. Eles tendem a expressar suas emoções com grande intensidade. Os indivíduos histriônicos (palhaços, bobos, ridículos) são muito excitáveis e estão em constante busca de estímulo. Os narcisistas têm um sentimento exagerado da própria importância. Os anti-sociais nunca conseguem conformar-se aos padrões do comportamento socialmente aceitos. Pode haver um histórico de conflito com a lei.

Medrosos

As pessoas do terceiro grupo se caracterizam fundamentalmente pela ansiedade e o medo. Nesse grupo estão os dependentes que carecem de auto-confiança e não conseguem funcionar independentemente. Os compulsivos são os perfeccionistas, rígidos em seus hábitos e emocionalmente frios. Os tipos passivos-agressivos resistem às exigências dos demais no sentido de melhorar o próprio desempenho no trabalho ou em casa.

 

Personalidade e Doença

Dr. Floyd O. Ring é psiquiatra da Escola de Medicina da Universidade de Nebrasca EUA. Ele e colegas realizaram uma pesquisa visando traçar um paralelismo entre certos tipos de doenças e as características da personalidade.

Ele e seus colegas ao examinarem pessoas, não dispunham de qualquer pista quanto à modalidade da doença. Cada um dos pacientes recebia instruções de não fazer qualquer menção de sintomas, tratamentos, problemas específicos, dietas ou qualquer outro detalhe referente aos aspectos físicos. Além disso, durante a entrevista o corpo do paciente era escondido sob uma coberta para que os entrevistadores não tivessem qualquer sugestão visual possível. A fim de que a amostragem fosse 100% correta, todas as entrevistas foram realizadas com a presença de pelo menos dois outros profissionais. Se o paciente desse qualquer pista da doença era imediatamente posto fora da experiência.

O Dr. Ring chegou a conclusão que os  portadores de determinadas enfermidades podiam ser identificados tão somente pelas características da sua personalidade. O resultado final da pesquisa mostrou que foi possível identificar 100% dos casos de hipertireoidismo, 83% de úlcera péptica e artrite reumatóide, 71% de oclusão coronariana, entre 60 e 67% dos portadores de asma, diabete, hipertensão e colite ulcerativa.

 

Acidentes Intencionais

Vimos até agora que dependendo das características da personalidade pode-se avaliar a tendência da pessoa para certas doenças. Mas, será que isso também valeria para acidentes?

Foi exatamente isso que a Dra. Helen Flanders Dumbar do Columbia Presbiterian Medical Center de Nova Iorque, EUA descobriu em suas pesquisas.

Dra. Dumbar e colegas estavam pesquisando a relação entre tipo de personalidade e doenças quando se depararam com vários casos de fraturas em indivíduos considerados psicologicamente normais. Em dezenas dessas pessoas verificaram a existência de fatores emocionais predispondo a acidentes repetidos. Nos casos analisados pela médica evidenciou-se uma probabilidade catorze vezes superior de acidentes graves que de todos os demais pacientes examinados. As personalidades propensas a acidentes já haviam sofrido, em média, quatro acidentes graves cada. Pelo menos 80% dessas pessoas sofreram mais de dois acidentes.

A pesquisa verificou que os predispostos a acidentes são pessoas despreocupadas. Não demonstram tensão nervosa. Já vimos ser a tensão emocional uma das principais características dos doentes psicossomáticos. Os propensos a acidentes, de modo geral, são bem humorados. Mas apresentam um caráter instável. Apesar de inteligentes demonstram pouco interesse pelos valores intelectuais ou pensamentos profundos. São também rancorosas diante de qualquer manifestação de autoridade. Há tendência de serem criados em ambiente de profunda religiosidade ou por pais excessivamente autoritários e rígidos.

 

Tendências Psicopatológicas

Há séculos sabe-se das predisposições de certos indivíduos a determinados tipos de doenças. Dr. Fritz Alexander e colegas do Chicago Institute for Psychoanalysis, EUA, verificaram que indivíduos com enfermidades semelhantes apresentavam conflitos emocionais parecidos. Concluíram que tais conflitos continham indicadores para as causas das doenças psicossomáticas específicas. Verificaram haver predisposição hereditária em certas pessoas para algumas enfermidades, entretanto, o agente desencadeador muitas vezes é um conflito emocional ou uma elevada tensão em certo período da vida.

Há várias inter-relações orgânicas, sociais e emocionais vulnerabilizadoras de doenças. Alguém nascido com um sistema circulatório vulnerável pode sentir grande hostilidade em relação aos seus pais, sem jamais demonstrá-la, por querer intensamente a sua aceitação. A hostilidade reprimida afeta as reações hormonais e emocionais gerando constricção arterial e acúmulo de colesterol nas paredes das artérias. Os enfermos com úlcera duodenal apresentam conflitos de dependência. Os asmáticos temem perder a mãe e tem dificuldade em chorar. As vítimas de neurodermatite são carentes de contato físico.

Sabe-se que o diabete é uma enfermidade de origem congênita. O pâncreas passa a produzir quantidades insuficientes de insulina, ou pode haver maior consumo de insulina nos tecidos. Qualquer que seja o mecanismo causante, resulta em um elevado nível de açúcar no sangue. Essa condição existe desde o nascimento, apesar dos sintomas do diabete, por vezes, só se manifestarem no decorrer da vida. Suspeita-se que as tensões emocionais ou fisiológicas prolongadas podem gerar uma deficiência permanente nos mecanismos regulares já precários, facilitando a manifestação da doença.

A Dra. Dunbar, por exemplo, verificou que os diabéticos apresentam um longo quadro de mal-estar, cansaço, moleza e sentimento de depressão e desespero, antes que a enfermidade seja detectada. Entre outras características o diabético típico é indeciso, preferindo deixar que os outros decidam por ele, para depois assumir o papel de má vontade, apesar de evitar qualquer ação para aliviar o que lhe parece falta de sorte. A maioria dos diabéticos manifesta ressentimentos e submissão dócil aos seus pais na primeira infância. Os diabéticos manifestam tendência a passividade de um medo geral e à sexual em particular.

 

Casuísticas Psicossomáticas

Há variadas indicações dos efeitos emocionais no organismo físico. Os casos apresentados abaixo servem para compreendermos a íntima relação emoção-corpo-sociedade.

Caso Viúva

Certa viúva foi informada acerca da morte da última de suas irmãs. Sentiu-se profundamente culpada e amargurada por não tê-la visitado e ajudado. Apesar de tal visita ser praticamente impossível. Uma hora após ter recebido a notícia teve um derrame.

Caso Noiva

Uma jovem estava prestes a se casar, mas inesperadamente o seu noivo deixou a cidade de repente. Aos poucos ela foi compreendendo que ele, simplesmente, fugiu para evitar o casamento. Certa noite, ao assistir uma cena romântica em um filme, sentiu forte pontada no joelho direito. Seguiram-se dores, inchaços e enrigecimento de outras articulações. Diagnóstico final: Artrite reumatóide.

Caso Herói

Luís padecia de hiperacidez estomacal crônica. Toda vez que assistia a um filme no qual o herói agia agressivamente ou perigosamente, ele reagia sentindo forte ardência na altura do coração enquanto o ácido fluía para o estômago. Luís se identificava com o herói. Diante da ansiedade despertada, ele fugia fisiologicamente da situação. Exatamente em que ele, na pessoa do herói, teria que lutar. O estômago se superativava preparando-se para a ingestão de alimentos. Isso é exatamente o oposto do que seria desejável no caso do herói cujo papel gostaria de desempenhar.

Há pessoas acometidas de certas doenças por desistência em viver. É preciso deixar claro que os exemplos citados acima não é lei geral. Há muitas pessoas que podem passar por situações análogas sem ter as conseqüências apresentadas. A forma de reação orgânica e emocional depende de vários fatores da personalidade que predispõe o indivíduo.

Extrato da lição 6 do Curso de Anatomia Para Terapeuta. Mais info, clique aqui.

Share