Verdades e mitos sobre o cogumelo do sol
Conhecido como cogumelo do sol, o fungo Agaricus sylvaticus tem conquistado uma legião de usuários, apresentando-se ao público sob diversas formas. Suas propriedades terapêuticas descritas vão desde agente anti-oxidante até adjuvante na terapia do câncer, o que, associado aos seus efeitos nutricionais de fonte altamente proteica, acarreta na sua crescente utilização como complemento nutricional. Por outro lado, o que pode ser dito sobre os seus efeitos adversos? Como diz o ditado, o natural não faz mal! Ou faz? Algo é relatado quanto à toxicidade desses alimentos… ou medicamentos? Há algum estudo que lida com o seu uso crônico? Cabe aqui uma reflexão sobre este vilão, mocinho ou apenas mais uma moda alimentar.
Com o desenvolvimento da ciência, o mundo passa a atentar para fatores que antes não eram vistos nos produtos. Ao mesmo tempo, as indústrias lançam mão de todas as suas ferramentas, criando um contato íntimo com seus consumidores através das propagandas. Deste modo, cabe às instituições regulatórias monitorar a qualidade dos produtos e ao consumidor ter um olhar mais crítico.
A suplementação dietética com cogumelos de diversas espécies tanto com fins nutricionais quanto medicinais, é descrita como frequente nas antigas sociedades. No caso do cogumelo Agaricus sylvaticus(sinonímia Agaricus brasiliensis ou Agaricus blazei), descoberto no município paulista de Tapiraí em 1965 por um imigrante japonês, suas diversas propriedades benéficas ao organismo tem despertado interesse. Resumidamente, é descrito como agente anti-tumoral, anti-viral, anti-trombótico, hipolipidêmico e anti-oxidante; possuindo uma ampla gama de substâncias como ácido linoléico e oléico, proteínas, vitaminas e polissacarídeos.
O fungo Agaricus sylvaticus têm sido utilizado, nos últimos anos, como uma estratégia terapêutica adjuvante em pacientes com diversos tipos de câncer. Apesar do seu exato mecanismo de ação não ter sido completamente elucidado, vários pesquisadores o documentaram como inibidor de crescimento tumoral, além de produzir efeitos hematológicos e imunológicos benéficos, tais como aumento do número de hemácias e estimulação da função e número de macrófagos, neutrófilos, células NK, monócitos e linfócitos.
Tal cogumelo também é utilizado em outros tipos de desordens como infecções, alergias, asma e inflamações, devido ao seu papel estimulante da imunidade inata, que possui um espectro de ação mais amplo.
Evidências científicas apontam a presença de substâncias bioativas com propriedades metabólicas e nutricionais, sendo a principal delas um complexo glucano-proteico. Diante disso, a empresa Cogumelo do Sol tem preparado um extrato na forma de xarope e comercializado como suplementação nutricional.
Se
Segundo o informe técnico n°6 de 31 de janeiro de 2003 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, as formas dessecadas inteiras ou fragmentadas e em conserva da espécie relacionada acima são consideradas alimentos e estão dispensadas da obrigatoriedade de registro. Os cogumelos, isolados ou associados a outras substâncias, nas formas de apresentação, como pós, cápsulas, tabletes, comprimidos e líquidos, dentre outras, independente da espécie do cogumelo, não são considerados alimentos. Não são permitidas alegações medicamentosas e ou terapêuticas nos rótulos e no material publicitário dos cogumelos.
Em um estudo clínico preliminar feito com 78 indivíduos, o pó granulado do Agaricus sylvaticus foi bem tolerado na maioria dos pacientes e a suplementação com doses de 1,8/3,6/5,4 gramas por dia durante 6 meses não causou nenhum tipo de anormalidade nos parâmetros laboratoriais.
Os potenciais efeitos negativos envolvidos estão associados a presença de agaritina, metais pesados, compostos radioativos e substâncias não identificadas.
A agaritina, antigamente descrita como agente carcinogênico, é alvo de dúvidas no meio acadêmico. Trabalhos recentes demonstram que o seu papel no cogumelo do sol é justamente o oposto, potencializando o efeito antitumoral deste fungo.
Quanto aos metais pesados, como arsênio, chumbo, cádmio e mercúrio e compostos radioativos, os cogumelos são organismos com capacidade de acumular e concentrar tais substâncias, o que poderia causar danos muito mais significativos em comparação aos possíveis efeitos terapêuticos. Por outro lado, não há relatos de danos causados por nenhuma destas substâncias descritas até o momento, tanto em estudos in vitro quanto com animais.
Em estudos clínicos, alguns efeitos adversos têm sido demonstrados, apesar de não serem freqüentes. Os principais são dermatite de contato e disfunções hepáticas, devido à sobrecarga no metabolismo do fígado. A incidência de hepatite aguda gerada é limitada a alguns poucos pacientes. Dois outros efeitos foram recentemente descobertos: a alergia alimentar e o desconforto durante a digestão.
Há outra questão que também deve ser levada em consideração. Algumas substâncias do cogumelo do sol possuem a capacidade de diminuir a atividade de enzimas do complexo citocromo P450, responsáveis pela metabolização de diversos fármacos. Como conseqüência, a ação de um fármaco pode ser prolongada, o que pode levar ao aparecimento de outros efeitos colaterais.
A composição química dos cogumelos também pode variar, dependendo de fatores como a origem geográfica, o clima e o momento da colheita. Os produtos variam de fabricante para fabricante. Mesmo com a padronização da concentração de alguma substância conhecida, o que forneceria ao consumidor uma qualidade farmacêutica mais consistente, os outros constituintes não identificados poderiam variar quanto a concentração, o que possivelmente modularia o efeito das substâncias ativas.
Conclusão
Apesar dos numerosos relatos de segurança e eficácia dos produtos derivados do Agaricus sylvaticus a nível pré-clínico, pesquisas adicionais são necessárias, principalmente estudos clínicos randomizados, o que possibilitaria a determinação da dose e outras condições clínicas para o uso adjuvante deste cogumelo. Os efeitos adversos possíveis, como danos hepáticos, reforçam a idéia de que este produto necessita de melhor monitoramente pelas instituições competentes, pois é largamente utilizado e vendido livremente.
Referências bibliográficas:
http://www.anvisa.gov.br/alimentos/informes/06_310103.htm
Renata C. Fortes, Maria Rita C. G. Novaes, Viviane L. Recôva and Andresa L. Melo. Immunological, Hematological, and Glycemia Effects of Dietary Supplementation with Agaricus sylvaticus on Patients’ Colorectal Cancer. Experimental Biology and Medicine 2009, 234:53-62.
- Costa Fortes and M.ª R. Carvalho Garbi Novaes. The effects of Agaricus sylvaticus fungi dietary supplementation on the metabolism and blood pressure of patients with colorectal cancer during post surgical phase. Nutr Hosp. 2011;26(1):176-186.
Geir Hetland, Egil Johnson, Torstein Lyberg, and Gunnar Kvalheim. The Mushroom Agaricus blazei Murill Elicits Medicinal Effects on Tumor, Infection, Allergy, and Inflammation through Its Modulation of Innate Immunity and Amelioration of Th1/Th2 Imbalance and Inflammation. Advances in Pharmacological Sciences. Volume 2011, Article ID 157015, 10 pages.
Satoshi Ohno, Yoshiteru Sumiyoshi, Katsuyoshi Hashine, Akitomi Shirato, Satoru Kyo, and Masaki Inoue. Phase I Clinical Study of the Dietary Supplement, Agaricus blazei Murill, in Cancer Patients in Remission. Hindawi Publishing Corporation. Volume 2011, Article ID 192381, 9 pages .
Fonte: http://bromatopesquisas-ufrj.blogspot.com.br/2011/12/verdades-e-mitos-sobre-o-cogumelo-do.html#more